quinta-feira, dezembro 04, 2008

Planetas e Desplanetas (II)

A definição de planeta que saiu do encontro de 2006 foi a seguinte:

a) orbita o Sol
b) tem massa suficiente para estar em equilíbrio hidroestático (é redondo)
c) limpou a vizinhança na sua órbita

O meu comentário:

a) Por esta definição os planetas extrasolares deixaram de ser planetas. Existe na literatura o uso desta palavra para designar estes corpos (ver post anterior), pelo que não vejo a necessidade desta restrição ao Sol.

b) Concordo, mas esta definição necessita de ser mais concreta. Quão "redondo" ou quanta massa deve ter o corpo para poder ser planeta? Na imagem ao lado interpreteção de Haumea, um" planeta anão", que não é muito esférico devido à sua rápida rotação.

c) Não concordo. Imagine-se que num certo sistema estelar (nem que seja por um curto período de tempo) dois planetas gigantes estão na mesma órbita (circular, e eles estão em pontos diametralmente opostos da órbita). Por não terem a vizinhança limpa não merecem ser planetas, mesmo tendo dimensões mais que necessárias para tal? Ou imagine-se corpos binários. No nosso sistema temos os casos de vários corpos de dimensões consideráveis que não limparam a sua órbita (Ceres, Plutão, Éris,etc) [esta definição de órbita limpa pode ser quantificada, pelo que não é assim tão subjectiva como parece], bastaria então um destes corpos estar numa órbita limpa que já seriam planetas? Não vejo o problema de existir uma cintura de corpos com planetas e asteróides, uma coisa semelhante acontece com os anéis de Saturno, onde temos luas pastoras (ao lado Prometeu a passear no meio dos anéis de Saturno) e partículas dos anéis na mesma órbita.

Mas este encontro criou mais duas definições,

Planeta anão:
a) orbita o Sol
b) tem massa suficiente para estar em equilíbrio hidroestático (é redondo)
c) não limpou a vizinhança na sua órbita
d) não é um satélite

Não concordo a 100% com esta definição. Mas o que acho ridículo é o facto de que os planetas anões não são uma subclasse de planetas, mas sim uma classe à parte. Como o nome indica, são planetas, mas anões! Não percebo esta distinção. O meu comentário mais aprofundado:

a) idem da definição de planeta
b) Concordo, e penso que é esta definição que deve distinguir um planeta de um asteróide, mas como já disse falta ser mais concreto...
c) Porquê esta para a definição de um planeta anão? Anão não estaria melhor relacionado com o tamanho (claro que o tamanho tem a ver com a limpeza da sua vizinhança, mas mesmo assim...)? Se se quer manter esta definição porque não um nome mais relacionado? Como planeta-pastor (só um exemplo, vindo das luas de Saturno)
d) Concordo, mas satélite está definido? (Pergunto eu)

E o "caixote do lixo oficial" do Sistema Solar:
Pequenos Corpos do Sistema Solar (!)
a) O resto, exluindo os satélites


Para onde foi a definição de asteróide, de cometa, de meteoro? Só temos pequenos corpos do Sistema Solar (PCSS)? Eu proponho que para estes corpos se use a definição asteróide, e depois se criem subclasses para cometa (asteróide com uma certa composição e órbita) e meteoro (asteróide de pequenas dimensões). O nome PCSS parece-se um sinal de claro desinteresse por estes objectos...

Mas esta definição falha em alguns pontos. Eu gostava de ver a definição de um corpo duplo (planeta duplo ou asteróide duplo) e a sua relação com satélite. A proposta muitas vezes utilizada de distinção é que um corpo duplo é um sistema onde o centro de massa do sistema está fora de ambos os corpos, ao invés de corpo + satélite, onde o centro de massa está dentro do corpo maior, sendo satélite o outro. No sistema solar existem corpos assim: Plutão-Caronte tem um centro de massa fora de Plutão, parecendo-me incorrecta a ideia que Caronte é um satélite de Plutão. Casos mais extremos são os dos asteróides 90 Antíope (imagem ao lado) e 1997 CS29, que são dois sistemas onde existem dois corpos com tamanhos aproximadamente iguais, sendo ridícula a ideia que um deles é dominante. Esta definição está em falta na minha opinião.

Dada que esta definição está concentrada apenas no sistema solar, o problema das anãs castanhas não se põe (uma vez que parece que a existência de um Sol b não é credível), mas se se quer extender para além dos limites da nossa estrela isto tem de ser levado em consideração. Ao lado imagem da estrela Gliese 229 A e da sua anã castanha Gliese 229 B (corpo mais pequeno).

O meu último comentário é que apenas uma pequena parte da comunidade astronómica votou nesta definição, mesmo na UAI. Talvez se os outros votarem esta definição seja retirada...

Nota: Todas estas imagens vêm do wikipedia.

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