sexta-feira, dezembro 28, 2007

O Especial Amigo de D. João II (I)

Estamos agora em 1492. Cristóvão Colón pega num navio e numa viagem sem espinhas descobre um novo continente. E isto na primeira viagem de exploração mandada por Castela. Os portugueses, que já tinham chegado ao sul de África, navegavam habitualmente no mar do Sargaço e estavam num esforço nacional de Exploração há quase 80 anos, deveriam ter-se suicidado em massa. Como teria sido possível outra nação, especialmente os demoníacos castelhanos, os terem ultrapassado na arte que melhor dominavam? O malvado Cristóvão Colón é que tinha a culpa, pois esteve longos anos a tentar convencer os Reis Católicos a apoiá-lo na viagem, como já tinha feito em Portugal. Este malandro só merecia uma coisa... ser especial amigo de D. João II de Portugal.

Pois é, em 1488, quando Colón estava a tentar convencer os Reis Católicos, D. João II numa carta secreta chama-lhe "especial amigo em Sevilha" e diz que "vimos a carta que nos escreveste e a boa vontade e afeiçam que por ella mostraaes teerdes a nosso serviço. Vos agradecemos muito"e mais "a vossa industria e bõo engenho nos será necessário". D. João II tinha rejeitado a proposta de Colón, por saber que a Índia não era para oeste, e no entanto Colón demonstrava estar de boa vontade ao serviço de D. João II (supostamente deveria estar furioso)e D. João II dizia ser necessário o "engenho" de Colón (que supostamente era um idiota que dizia que a Índia era mais perto por oeste do que por este).

Outra, muitíssima interessante, é o facto dos indígenas do Haiti dizerem a Colón e à tripulação que não há muito tempo passaram por ali navios e pessoas parecidos com eles.

Mais há mais coisas interessantes. Enquanto esteve em Portugal, Colón casou-se com Filipa Moniz Perestrelo, que vivia no convento de Santos-o-Velho, que era só para membros da ordem de Santiago, que curiosamente tinha como mestre D. João II. O melhor era que Colón a tinha conhecido porque ia lá regularmente à missa...para além de que para se casar com ela só com autorização do mestre...

Em mais situações (socorro aos Portugueses em Arzila sem dizer nada aos Reis Católicos, encontrar-se com D. João II no regresso da sua primeira viagem antes de D. Isabel e D. Fernando II e a rainha D. Leonor de Portugal mandar-lhe uma carta para este não se ir embora sem a ver, etc...) se pode ver que há muita coisa por dizer sobre este homem, que não parece ter nada a ver com aquilo que se diz dele. E em muitas delas parece português ou pelo menos estar ao Serviço de Portugal.

Será que a descoberta da América para Castela se fez por Colón ao serviço de Portugal?

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Os Bacalhaus Perdidos (IV) - Portugal e Kalmar

Os últimos possíveis exploradores da América antes de Colón que vou falar são talvez os mais conhecidos: João Vaz Corte-Real e Álvaro Martins Homem. João Vaz é pai de Gaspar e Miguel, que falaremos mais à frente. Gaspar Frutuoso, historiador açoriano do século XVI, diz que João Vaz Corte-Real recebeu a capitania da Angra na Terceira por ter descoberto a Terra Nova dos Bacalhaus. Sendo verdade, isto indicaria uma viagem antes de 1474. Muitos historiadores indicam que este foi um erro de Frutuoso que o confundiu com os filhos (veremos depois o que foi que eles fizeram).

Mas existe outra indicação sobre esta viagem, que vem da Escandinávia. Numa carta para o rei Cristiano III da Dinamarca em 1551, lê-se que foi realizada uma viagem no tempo de Cristiano I da Dinamarca (e também da Noruega e da Suécia, a União de Kalmar) e de Afonso V de Portugal, a pedido do Africano. Ao que parece João Vaz Corte-Real e Álvaro Martins Homem teriam participado nesta viagem luso-dinamarquesa, que teria passado pela Gronelândia e chegado à América do Norte. Gostava de saber o que diz exactamente esta carta, e se os nomes dos exploradores portugueses aparecem, pois seria um dado que daria mais credibilidade às afirmações de Frutuoso.
Possivelmente existiram mais viagens, nas quais talvez se integre a de Colón a estas paragens em 1477 (palavras do próprio). De notar que existe alguma dúvida na existência ou não de antigas colónias escandinavas na Gronelândia aquando da chegada destas expedições.

A ideia que interessava a Portugal parecia ter sido que se poderia chegar à Ásia pelo Norte, sendo assim uma possível alternativa à rota do Cabo. Como se veio a verificar, a rota do Cabo era mais fácil de se realizar. No entanto para uma exploração conjunta ter ocorrido é porque os países tinham uma relação notável, algo que não se refere muitas vezes.

Os Bacalhaus Perdidos (III) - Os Colon(bo)s

Como vimos anteriormente, os Portugueses no século XV faziam viagens mar adentro, que levou à descoberta por exemplo do Corvo e das Flores. Algumas destas viagens teriam chegado à América? Vamos ver algumas.

Diogo de Teive lançou-se para oeste em 1451 (no regresso descobriu as Flores e o Corvo) a partir do Faial e percorre 150 léguas. Foi em busca da mítica ilha das Sete Cidades mas não a encontrou. De notar que foi parar à Irlanda, pelo que navegar no mar alto não era problema nenhum para os navegadores portugueses, como por vezes se diz.

Contudo, fez uma segunda viagem, em 1452, acompanhado por Pedro Vasques de la Frontera e descobriu a mítica ilha! Não se sabe se este teria ido para norte, em direcção aos bancos da Terra Nova, ou para sul, em direcção ao Mar do Sargaço, que até já era conhecido dos portugueses. Esta ilha tanto pode ser a ilha Sable, a Bermuda ou uma das Caraíbas, mas o que interessa é que era uma das ilhas do continente americano.


Há mais "exploradores fantasma" como António Leme antes de 1484, que descobriu 3 ilhas, João Vogado em 1462, Gonçalo Fernandes a mando do Infante D. Fernando em 1462, Vicente Dias e Fernão Teles. Este último até ganhou o monopólio em 1475 do comércio das ilhas que descobriu. De notar que nesta altura nem o Tratado de Alcáçovas nem o de Tordesilhas estavam em efeito.

Há mais dois exploradores mistério, mas estes ficam para a próxima.

Os Bacalhaus Perdidos (II) - O Oeste

Os primeiros europeus que com certezas absolutas chegaram à América foram os vikings. Atravessando o Árctico. estabeleceram colónias na Gronelândia e pelo menos também na Terra Nova. Este contacto haveria de acabar e ao que parece a Europa e a América permaneceram afastadas até às Descobertas.

As explorações portuguesas no início do século XV não se confinaram às regiões costeiras, como se costuma dizer. A descoberta dos Açores prova-o e se se analisar bem a distância das ilhas do Corvo e das Flores à Terra Nova vê-se que metade do caminho até à América já tinha sido desbravado... Assim, e com o aumento cada vez maior da capacidade de exploração dos navios portugueses ao longo do século, a descoberta da América seria apenas uma questão de tempo...
Tradicionalmente a descoberta a América é atribuída a Colón em 1492. E não por Portugal, o único país apostado na exploração, mas curiosamente (ou não...) pelo único vizinho de Portugal, Castela. Esta história e o resto são bem conhecidos e voltamos a eles mais tarde.

Há uma questão que no entanto faz sentido perguntar: será que Portugal terá chegado à América antes de Colón em 1492? A título de exemplo veja-se que o Corvo e as Flores foram descobertos cerca de 1450. Será que em 40 anos não se experimentou navegar para oeste?
Como seria de esperar, os vestígios de tais viagens não existem ou são muito vagos. Porque outro ponto muito importante muitas vezes não é referido: o secretismo. As razões para o secretismo português no século XV podem ser muito ou pouco óbvias, mas uma coisa é certa: ele existiu. Alguém acredita que entre a viagem de Bartolomeu Dias em 1488 e a de Vasco da Gama em 1498 não se explorou nada no Atlântico Sul? (Viagem de Vasco da Gama está a preto no mapa ao lado). É que Vasco da Gama, que ia numa missão importante, não repete o trajecto de Dias, percorre um novo... e se existissem condições atmosféricas terríveis neste novo caminho? A única explicaçao que eu encontro é que explorações ocorreram no Atlântico Sul nestes 10 anos e que Gama foi pelo melhor caminho que se encontrou. Mas se assim foi, então algumas viagens foram escondidas. Aliás, até a própria viagem de Bartolomeu Dias apenas é conhecida devido a algumas "fugas de informação"...

No texto seguinte vamos analisar algumas destas "viagens fantasma" a terras no oeste.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Os Bacalhaus Perdidos (I)

Geralmente quando se fala do Império Português centram-se logo as atenções em África (no geral, como se Arguim e Melinde fossem terras vizinhas), no Brasil e na Índia (também no geral). E isso é natural, já que durante a extensão temporal do Império estas terras foram o ponto mais lucrativo e importante. Mas havia mais para além destas.

O que me leva a escrever este artigo é o desconhecimento ou desinteresse de muitos nas antigas possessões portuguesas na América do Norte. Sim, ouviu bem, na América do Norte - não estou a falar do Brasil. O que primeiro me cativou a atenção foi um dos meus livros escolares do 7º ou 8º ano, que para além da representação do império típica, tinha um pequeno pontinho a oeste dos Açores. Durante muito tempo fiquei intrigado com aquele pontinho. Não fazia sentido ainda por cima porque ficava a oeste da linha de Tordesilhas, portanto não poderia ser Português, mas ali estava. Não perguntei ao professor o porquê, talvez porque já tivesse descoberto mais um interesse para desenvolver. Mas sempre ficou na minha memória aquele pontinho na América do Norte.
Mais tarde, talvez pouco tempo depois, descobri que aquele pontinho estava sobre a Terra Nova. Comecei a investigar sobre a Terra Nova e ainda fiquei mais perplexo: tinha sido descoberta por Caboto em 1497 e tinha sido um colónia inglesa. Jacques Cartier também tinha lá passado. Teria sido um erro aquele pontinho? Nunca quis acreditar que era, mas não conseguia explicar como tinha surgido, e também não encontrava respostas...
Anos depois cá estou eu e já sei o porquê daquele pontinho. Pode dizer-se que a internet ajuda muito. Pois bem, vou desvendar um pouco o porquê daquele ponto. Porque eu acho que até as colónias mais esquecidas ou falhadas merecem ser referidas e estudadas e de forma separada das demais.
Bem vindos à Terra Nova dos Bacalhaus, a parte portuguesa da América do Norte no século XVI.