Os textos vêm do Boletim da Sociedade de Geografia - Nº 2 (Dezembro de 1877), páginas 72-77 e Nº3 (Julho de 1878), páginas 169-172.
Começo pelo primeiro:
"
III
João Alvares Fagundes
Um dos descobridores da Terra Nova
João Alvares Fagundes
Um dos descobridores da Terra Nova
Querem alguns genealogicos que este intrepido aventureiro vianez proceda dos celebrados Facundios ou Fagundes, fidalgos portugueses muito encarecidos em nobiliarios e que parece devem sua origem a uma fraqueza amorosa de um cardeal S. Facundo com uma ilustre dama romana, de nome Isabel de Bolonha (1). Esta opinião é a que mais commumente se verifica das arvores genealogicas de algumas familias distinctas do Minho, nas quaes, se bem que por um modo extremamente vago e sem indicações chronologicas, apparece o nome do ousado navegador com estes titulos Capitão da Terra Nova e Senhor e Descobridor das Ilhas do Bacalhau.
Assim o encontramos na arvore genealogica de Antonio Pereira Cyrne de Castro da Silva Bezerra Fagundes, de Vianna, na qualidade de irmão de Catharina Alvares Fagundes, esposa de Pero ou Pedro Gomes Pereira do Lago, senhor do praso de S. Salvador da Torre.
Na casa de Calheiros, uma das mais antigas da ribeira Lima, apparece o nome de João Alvares Fagundes, ""senhor"" na qualidade de avô de Francisco Fagundes e este, pae de Gembra Jacome Fagundes, casada com Garcia Lopes Calheiros.
Estas referencias, porem, apparecem, como dissemos, despidas de toda a indicação chronologica, sem authoridade, sem esclarecimentos e não faltando quem com bons fundamentos duvide da veracidade d'ellas. N'estes termos, pois, não nos bastam estas alusões particulares, escriptas no seio das familias e quasi sempre por chronistas apaixonados ou estipendiados, para considerar-mos João Alvares Fagundes descendente d'aquelles fidalgos, que já no século XIII acudiam com donativos valiosos á obra que Affonso III emprehendera em Vianna. Em escriptos de maior credito o vemos tractado apenas por fidalgo vianez, cavalleiro da casa de El-Rei, chefe da familia Fagundes e como tal declarado por D. João III no brasão d'armas que deu a Pero Pinto, sobrinho do illustre aventureiro, a 9 de setembro de 1527, em Coimbra (2).
Esta referencia, feita por o auctor dos Solares e pondo mesmo de parte a qualidade de genealogico imparcial e o cunho de veracidade que apparece em todos os seus escriptos, affigura-se-me bastante para provar que João Alvares Fagundes, em rasão do feito por elle practicado, constituiu de per si uma outra familia, independente da que houvera sido nobilitada por Affonso III em 1253.
O que se me affigura exacto é que os antigos senhores do appellido Fagundes, vendo os favores que do soberano recebera em 1527 o intrepido navegador não hesitaram conta-lo entre os illustres de sua estirpe, processo facil, por meio do qual os annaes de familia podiam adquirir mais profundo luzimento.
Querem também alguns escriptores que João Alvares Fagundes sahisse do solar do Outeiro, na freguezia de Moreira, concelho de Ponte de Lima. Não me parece com muito fundamento esta asserção.
A casa do Outeiro, situada na freguezia de Moreira do Lima, no lugar das Lages, no extremo do qual fica um outro com o nome de Roubão, é obra de Ruy Fagundes, arcypreste da collegiada de Vianna e filho de Rodrigo Ennes Fagundes, egualmente arcypreste da mesma collegiada. Este Ruy Fagundes veio a instituir vinculo por mando ou testamento de 5 de setembro de 1553, época, aproximadamente que deve ser tomada como da fundação da casa, cujas ruinas ainda se ostentam de pé. Por uma determinação especial nomeou Ruy Fagundes por administrador de seu vinculo a seu filho Balthazar Fagundes, morador em Vianna, pessoa de muitos creditos, governador do castello, qualidade que este fidalgo não omitte em seu testamento, escripto n'aquella villa a 4 de janeiro de 1594.
Até o tempo em que D. Diogo de Lima foi feito governador do castello estiveram n'elle esculpidas as armas dos Fagundes, como evidentemente o affirma o padre Antonio machado Villas-boas em seus apontamentos.
Ostentam ainda hoje as ruinas d'este solar do Outeiro varias legendas que, mais por curiosas que por fazerem parte do objecto principal d'esta noticia, aqui deixo apontadas.
Sobre o portão que dá serventia para o rocio ou terreiro está um escudo coroado com o symbolo timbrico dos Pereiras, isto é, uma cruz no meio de duas allas ou azas. No corpo do brazão que é espherico estão representados os appelidos Pereiras e Fagundes, sem mais ornato nem inscripção.
Dentro do rocio e sobre uma pequena porta que dá ingresso para um caminho da quinta está outro brazão com os mesmos appellidos, diversificando apenas no timbre pela ausencia das allas. A cruz que encerra o escudo tem esculpturada a imagem de Christo. Serve de appoio a este emblema heraldico uma especie de atticos, sem ornamentos nem primores, no corpo dos quaes se lê claramente esta inscripção:
Assim o encontramos na arvore genealogica de Antonio Pereira Cyrne de Castro da Silva Bezerra Fagundes, de Vianna, na qualidade de irmão de Catharina Alvares Fagundes, esposa de Pero ou Pedro Gomes Pereira do Lago, senhor do praso de S. Salvador da Torre.
Na casa de Calheiros, uma das mais antigas da ribeira Lima, apparece o nome de João Alvares Fagundes, ""senhor"" na qualidade de avô de Francisco Fagundes e este, pae de Gembra Jacome Fagundes, casada com Garcia Lopes Calheiros.
Estas referencias, porem, apparecem, como dissemos, despidas de toda a indicação chronologica, sem authoridade, sem esclarecimentos e não faltando quem com bons fundamentos duvide da veracidade d'ellas. N'estes termos, pois, não nos bastam estas alusões particulares, escriptas no seio das familias e quasi sempre por chronistas apaixonados ou estipendiados, para considerar-mos João Alvares Fagundes descendente d'aquelles fidalgos, que já no século XIII acudiam com donativos valiosos á obra que Affonso III emprehendera em Vianna. Em escriptos de maior credito o vemos tractado apenas por fidalgo vianez, cavalleiro da casa de El-Rei, chefe da familia Fagundes e como tal declarado por D. João III no brasão d'armas que deu a Pero Pinto, sobrinho do illustre aventureiro, a 9 de setembro de 1527, em Coimbra (2).
Esta referencia, feita por o auctor dos Solares e pondo mesmo de parte a qualidade de genealogico imparcial e o cunho de veracidade que apparece em todos os seus escriptos, affigura-se-me bastante para provar que João Alvares Fagundes, em rasão do feito por elle practicado, constituiu de per si uma outra familia, independente da que houvera sido nobilitada por Affonso III em 1253.
O que se me affigura exacto é que os antigos senhores do appellido Fagundes, vendo os favores que do soberano recebera em 1527 o intrepido navegador não hesitaram conta-lo entre os illustres de sua estirpe, processo facil, por meio do qual os annaes de familia podiam adquirir mais profundo luzimento.
Querem também alguns escriptores que João Alvares Fagundes sahisse do solar do Outeiro, na freguezia de Moreira, concelho de Ponte de Lima. Não me parece com muito fundamento esta asserção.
A casa do Outeiro, situada na freguezia de Moreira do Lima, no lugar das Lages, no extremo do qual fica um outro com o nome de Roubão, é obra de Ruy Fagundes, arcypreste da collegiada de Vianna e filho de Rodrigo Ennes Fagundes, egualmente arcypreste da mesma collegiada. Este Ruy Fagundes veio a instituir vinculo por mando ou testamento de 5 de setembro de 1553, época, aproximadamente que deve ser tomada como da fundação da casa, cujas ruinas ainda se ostentam de pé. Por uma determinação especial nomeou Ruy Fagundes por administrador de seu vinculo a seu filho Balthazar Fagundes, morador em Vianna, pessoa de muitos creditos, governador do castello, qualidade que este fidalgo não omitte em seu testamento, escripto n'aquella villa a 4 de janeiro de 1594.
Até o tempo em que D. Diogo de Lima foi feito governador do castello estiveram n'elle esculpidas as armas dos Fagundes, como evidentemente o affirma o padre Antonio machado Villas-boas em seus apontamentos.
Ostentam ainda hoje as ruinas d'este solar do Outeiro varias legendas que, mais por curiosas que por fazerem parte do objecto principal d'esta noticia, aqui deixo apontadas.
Sobre o portão que dá serventia para o rocio ou terreiro está um escudo coroado com o symbolo timbrico dos Pereiras, isto é, uma cruz no meio de duas allas ou azas. No corpo do brazão que é espherico estão representados os appelidos Pereiras e Fagundes, sem mais ornato nem inscripção.
Dentro do rocio e sobre uma pequena porta que dá ingresso para um caminho da quinta está outro brazão com os mesmos appellidos, diversificando apenas no timbre pela ausencia das allas. A cruz que encerra o escudo tem esculpturada a imagem de Christo. Serve de appoio a este emblema heraldico uma especie de atticos, sem ornamentos nem primores, no corpo dos quaes se lê claramente esta inscripção:
MORGADO DOS FAGUNDES.
QVE INSTITVIR V´ FAGV~DES ANO 1553. FOI
PRIMEIRO ADMINISTRADOR B.AR FAGUNDES
SEU FILHO QVE ESTA OBRA E CAZAS FEZ.
HA INSTITVICAO ESTA NA CAMARA DA VILLA
DE VIANA CABECA DO MORGADO
1583.
QVE INSTITVIR V´ FAGV~DES ANO 1553. FOI
PRIMEIRO ADMINISTRADOR B.AR FAGUNDES
SEU FILHO QVE ESTA OBRA E CAZAS FEZ.
HA INSTITVICAO ESTA NA CAMARA DA VILLA
DE VIANA CABECA DO MORGADO
1583.
No extremo norte da quinta, já sobre o logar do Roubão e em parede pouco elevada está entalhado um escudo, já não oval, com o symbolo heraldico dos Fagundes e a inscripção seguinte:
_______
P. A.-- B. F
MORGADO DOS FAGV~DES
_____________________
1591
P. A.-- B. F
MORGADO DOS FAGV~DES
_____________________
1591
isto é = primeiro administrador = e = Balthazar Fagundes.
Este Balthazar Fagundes parece que, depois de enviuvar, veio a fazer-se clerigo, obtendo mais tarde a abbadia de Moreira, onde falleceu. D'este Balthazar Fagundes ficou uma filha de nome Maria Fagundes, que casou com Francisco Pereira Pinto, senhor do segundo morgado de Bertiandos.
(a continuar)
Este Balthazar Fagundes parece que, depois de enviuvar, veio a fazer-se clerigo, obtendo mais tarde a abbadia de Moreira, onde falleceu. D'este Balthazar Fagundes ficou uma filha de nome Maria Fagundes, que casou com Francisco Pereira Pinto, senhor do segundo morgado de Bertiandos.
(a continuar)